segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Contato físico e intimidade entre mãe e bebê

No reino animal encontramos vários bebês que, mesmo após seu nascimento, permanecem como que acoplados ao corpo de sua mãe! Um canguru, por exemplo, depois de nascer, fica por volta de 8 meses na bolsa de sua mãe até ser capaz de sair e andar sozinho! Os macacos bebês, apesar de amadurecerem mais rápido do que os bebês humanos, ainda continuam em contato permanente com as suas mães até ao fim da lactação, com uma duração média de três anos ou mais.
Os humanos, por serem os bebês mais indefesos de todas as espécies, também precisam de um tempo como uma gravidez, mas fora do útero, mantidos o mais perto possível do corpo de sua mãe. Este tempo de “gestação externa”, chamado também de exterogestação, um momento fundamental na vida do seu bebê, é de profunda importância sobre a formação física, emocional e psicológica da criança!
Portmann, Kovacs, e Bostok já sugeriram que para um recém-nascido humano atingir a fase de desenvolvimento de um macaco recém-nascido (animal mais parecido com o homem), a gestação teria que durar cerca de 20 meses. Um dos motivos biológicos que justifica a exterogestação está no fato do bebê humano nascer bem antes da maturação completa do seu cérebro! Isto porque se eles permanecessem no útero por um longo período de tempo e seus cérebros continuassem a crescer no ritmo esperado, a cabeça seria grande demais para passar pelo canal vaginal. Por isso, os humanos são a espécie mais imatura e dependente de todos os animais ao nascer (Trevathan).
Apesar de a infância corresponder apenas cerca de 2% do nosso tempo de vida, o cérebro se desenvolve num ritmo incrível (Heller).  Ate o seu nascimento, o cérebro do bebê cresce apenas 25%. No primeiro ano de vida, este crescimento acontece mais rápido do que todas as outras fases, alcançando a maturação de 80%. Quando uma criança tem três anos deve ter concluído 90% do crescimento do cérebro (Montagu).
A natureza dos bebês é destinada para ficar com suas mães, especialmente no momento em que seu cérebro vai se desenvolver mais do que qualquer outro de suas vidas. Os bebês não podem nascer com um desenvolvimento incompleto e serem deixados sozinhos ou separados de suas mães na maior parte do dia ou noite, como se tivessem que sobreviver como espécie. Heller afirma que “Pelo ritmo de desenvolvimento humano, a separação do corpo da mãe antes de qualquer outro mamífero, desafia a lógica”.
Portanto, a base mais importante para a sobrevivência e um desenvolvimento saudável da criança é o CONTATO.  Todas as mães de mamíferos parecem saber por instinto que seus filhos precisam ser tocados. O bebê demonstra se está bem, em grande parte, através das mensagens que recebe através de sua pele.
No útero, todas as necessidades do bebê são atendidas prontamente. A temperatura e a pressão são constantes e o som dos batimentos cardíacos da mãe e sua voz são rítmicos e suaves. O bebê é enrolado, protegido e seguro. Ele recebe oxigênio e é alimentado constantemente pelo cordão umbilical. Depois, ao nascerem, eles que são responsáveis por manter toda esta homeostase do corpo: fome, frio, ruídos novos, cheiros, pessoas, toques estranhos… Tudo pode fazê-los se sentirem perdidos e desamparados.
Porém, as mães estão sintonizadas pela evolução para fornecerem um lugar seguro para seus bebês continuarem o crescimento, um lugar onde a nutrição, proteção, carinho e proximidade são preservados: COLO!
O corpo confortável e o ambiente familiar do colo de sua mãe tranquiliza a criança de que está em um lugar seguro (Montagu). É a partir deste lugar que os bebês aprendem sobre o desconhecido. Quando um bebê está com a mãe, encontra-se no estado ideal para a observação e processamento de tudo o que acontece ao seu redor.
Carregar um bebê em seus braços ou usar umSLING (carregar de bebê feito de pano) imita o espaço fechado e a privacidade da gestação!  Quando o bebê está no corpo de sua mãe, ganha na própria concepção, uma consciência do seu próprio corpo e do local de seu corpo no espaço. Obtém estimulação auditiva pela voz materna. Quando é liderado por um movimento rítmico e balançando, seu corpo estimula o sistema vestibular, o seu senso de equilíbrio e uma sensação de segurança no espaço. Recebe estimulação olfativa com a fragrância de sua mãe e estímulo gustativo do aleitamento materno.  Ele tem uma excelente visão na posição vertical e tem o privilégio de um estímulo visual que lhe permite ver o mundo sem perder a segurança!
O contato físico e intimidade entre mãe e bebê não é apenas importante para o crescimento do cérebro, mas para o desenvolvimento físico geral. É comprovado que bebês que são severamente privados de contato não secretam corretamente o hormônio do crescimento.
Patton e Gardner publicaram os registros de crianças que foram privadas de sua mãe e foi observado além de distúrbios mentais sofridos, que após três anos,  “desenvolveram apenas metade do crescimento dos ossos de uma criança normal” (Montagu, 244).
O toque é tão importante para o desenvolvimento saudável que a falta de incentivo de uma criança afeta desequilibrando a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que é liberado de forma tóxica para o organismo. Altos níveis de cortisol no sangue, não só representam um impacto negativo sobre os níveis do hormônio do crescimento, mas também afetam adversamente o sistema imunológico do corpo.
O Grupo de Pesquisa de Desenvolvimento de Psicobiologia da Universidade do Colorado Medical Center relatou que macacos separados de suas mães por um curto período de tempo, apresentam a parada de produção de células brancas do sangue para combater as infecções. Quando eles se encontram com suas mães, seu sistema imunológico pára e os leucócitos normais começam a ser produzidos novamente (Montagu).
Observando bebês prematuros colocados em incubadoras, verificou-se que eles tendem a se mover em direção aos cantos de suas camas. Eles querem o sentimento familiar de contenção (Field).  “Quanto mais perto o ambiente externo fica do ambiente interno do utero, mais ele estabiliza o bebê e este pode voltar sua atenção para o crescimento e desenvolvimento (Genna).
A natureza, sabendo desta necessidade biológica do recém-nascido, fornece a amamentação como uma forma das mães atenderem às mais diversas necessidades do bebê. Por isso, sabiamente, providenciou um caminho natural para espaçar o nascimento dos filhos, permitindo à mãe cuidar de seu filho de forma integral e por um período de tempo mais longo. Quando uma mãe e uma criança estão envolvidas pela amamentação, pode haver uma ausência de períodos menstruais, devido à amamentação irrestrita. Seu corpo sabe que você está se doando ao seu filho, portanto ele não está pronto para estabelecer e consolidar uma outra vida tão cedo. As energias de reservas da mãe não são reduzidas ao sangramento menstrual durante este tempo e sua ovulação é suprimida. Entao os bebês vem naturalmente espaçados. Isto dá o tempo necessário para o bebê se formar e permanecer em contato constante com a pele de sua mãe ate ter o mínimo de autonomia! (Jakson).
Por conta da acelerada maturação cerebral do bebê, a idade de 0 a 3 anos é também a fase de maior aprendizado da vida do ser humano! A infância é a base para todo o aprendizado posterior! É nela que são formadas as bases cognitivas e emocionais que influenciarão toda a vida adulta!
Esse é apenas mais um motivo de que os três primeiros anos é quando a criança mais precisa de sua mãe e sua família! Pesquisas confirmam que as crianças que são cuidadas integralmente por suas mães durante os primeiros três anos de vida têm menos problemas de crescimento e desenvolvimento.
Portanto, viver a exterogestação é dar chance para que seu bebê saiba que ele é amado e confiante de que suas necessidades serão satisfeitas.
“O contato é tão necessário para o desenvolvimento normal dos bebês 
como alimento e oxigênio”.   
Richard Restak
Criar o bebê de uma forma que se assemelha a gravidez, tanto quanto possível até que o “bebê de fora” esteja completo, favorece que a criança tenha acesso a tudo que precisa para se desenvolver e crescer física, mental e emocionalmente e ser um indivíduo seguro e feliz.
* Ao escrever este artigo, a relação “mãe/filho” é intencional. Mas quando a mãe biológica não está disponível, um cuidador ou responsável pode realizar esse papel.
Por Liana Schiebel
Tradução do espanhol para o português: Simone De Carvalho.
Veja artigo em espanhol aqui.
Veja artigo original em inglês aqui.

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